terça-feira, maio 14, 2013

A RAINHA DO ROSÁRIO

A Rainha do Rosário
“Adir Affa Rievrs”


Há muitos e muitos anos,
Cerca de mil, talvez,
Quando o homem tinha dono
E o branco, por sua vez
Ao negro subjugava,
Matava e escravizava
Por não ter sua palidez.

Vocês, crianças de agora,
Não sabem quanta alegria
Trouxe minha Nossa Senhora
A um povo que muito sofria,
Que vivia na escravidão,
Tinha dono em vez de patrão,
Não era como hoje em dia.

Pois bem, que um belo dia
Um negro se esquivou
Foi sentir a maresia
Do mar, que muito olhou.
E de tanto olhar o mar
Acabou por encontrar
Algo que o embasbacou.

- Vejo, mas não acredito!
Meus olhos não me traem
Será o São Benedito
O que as ondas me trazem?
Mas aquilo é uma Santa
Que das ondas se levanta!
Ou será que é miragem?

E assustado ele correu
 De volta para a senzala
Então relatou aos seus
Antes que perdesse a fala
Sobre aquilo que ele viu,
Só que todo mundo riu
Da história que contara.








À principio ninguém quis
Acreditar no negro não:
- Está louco este infeliz
Ou sonhou com essa visão!
Mas alguns dos seus amigos
Resolveram dar-lhe ouvidos
E conferir a aparição.

Eis que surge de modo audaz
E rápido como uma bala
O implacável capataz
Que deste modo lhes fala:
- Vou dizer num só mote
Que vão entrar no chicote
Se não voltar pra senzala.

O dono de gente não podia
Saber o que o negro viu.
Mas como não saberia?
O capataz falou o que ouviu:
- Um negro vendo o mar tinha
Avistado uma Santinha
Que em cima da onda surgiu.

Então disse o dono de gente
- Construam uma capela
Com bordados reluzentes
E tranquem a Santa nela
Que amanhã, sem aresta
Vamos fazer uma festa
Pra Virgem Santa Donzela.

Ouvindo a ordem do senhor
Tiraram a santa do mar
E como ele lhes ordenou
Na capela a foram guardar
Tomando muito cuidado
Trancaram com cadeado
E esperaram pra festejar.

Mas vindo o amanhecer
Quando se formou o cortejo
O senhor fez a todos saber:
- Hoje não haverá festejo!
A santa voltou pro mar
E ela não vai sair de lá
Se não for do seu desejo.

Veio um caboclo e falou:
- Escute-me senhor, um pouco,
Busco a santa pro senhor
Com a guarda de caboclo.
Trago a santa pra capela
E durmo bem junto dela
E olha que eu durmo pouco.

Mas de nada adiantou
A vigília do caboclo.
Pois quando ele acordou
Saiu gritando feito louco:
- A santinha, gente, sumiu!
Alguém aí da senzala viu?
Estava aqui inda há pouco.

E um velho do congo lhe diz:
- A santa voltou pra água
Porque está muito infeliz
E da gente guarda mágoa.
Pra buscar a Virgem Maria
Tem de haver mais alegria,
A chama que não se apaga.

O dono de gente interrompeu
- Tem razão no que dizia
Pois já ouvi de um tio meu
Nossa Senhora, Virgem Maria
È a mãe da natureza
E não gosta de tristeza
Sim de festa e alegria.

O velho de congo pensou
E falou pro dono de gente:
- Pode deixar, meu senhor
Que a santa volta contente
Pois agora mesmo eu mando
Chamar uma guarda de congo
E encher a capela de gente.

O dono de gente autorizou
Só que tudo se repetiu
Pois quando o dia clareou
A santa, do altar, sumiu!
E todo mundo entristeceu
Quando a santa reapareceu
No mar, como ela surgiu.


Pois ficou o dono de gente
Cabisbaixo no terreiro,
Ele estava descontente
Igual a quem perde dinheiro!
E foi justo nesta passagem
Que da senzala, com coragem
Veio falar-lhe um candombeiro.

-Senhor, nós podemos tirar
A santinha lá da praia,
O que ela quer é nos ver cantar
E o nosso canto não falha
È o nosso jeito de rezar
E se o nosso tambor tocar
Vai rezar toda a senzala.

O dono de gente olhou
Pro negro de forma sensata
Coçou a cabeça e falou
Ao negro:- Ô vida ingrata!
Olha negro, eu vou deixar
Mas se a santa não sair do mar
Eu corto vocês na chibata.

O negro saiu correndo
Pulando e dando risada
E pro seu povo foi dizendo
- Preparem a tamborzada
Que hoje nós vamos tocar
Pra santa sair do mar,
A Virgem Imaculada.

Candombeiro quando canta
Canta com muita alegria
Assim, o mal ele espanta
Porque vive em cantoria
E a cantoria foi tanta
Que da onda veio a Santa
E foi pro meio da folia.

O dono de gente quis saber
- Por favor, digam pra mim,
Como é que esse ti-lê-
A
essa história deu fim?
Mas lhe disse o candombeiro
- È que a gente no terreiro
Vive sempre cantando assim:


- Coroa Santa, Coroa Santa
Coroa santa que busquei no mar
Abre a porta Santinha, canta
Para a felicidade entrar
Pois lá no mar apareceu
A Rainha mãe de Deus
Para o nosso povo alegrar.

- Venha nos abençoar
Minha Santa Nossa Senhora
Venha com as ondas do mar
Abençoar todos agora
A mãe de Deus eu digo amém
È a mãe do negro também
E todo mundo lhe adora.

Esta festa lá no terreiro
Foi pela noite a fora
E o tambor do candombeiro
Foi trono de Nossa Senhora.
Já quem criou o rosário
Foi um santo missionário.
Mas esta é outra história:

Foi São Domingos que lá longe
Quis homenagear a Santa
E ensinou aos outros monges
A fazer colar de contas:
- Cada conta é uma oração
Que fazemos com emoção
A Maria que nos encanta.

E é do século dezesseis
A oração que eu recito
Que pela guerra assim a fez
O pontífice Pio Quinto
À Nossa Senhora do Rosário
E ao santo missionário
O bondoso São Domingos:

- Dai a todos os cristãos
A graça de compreender
A grandiosidade da devoção
No rosário que nos faz crer
Que rezando a Ave-Maria
No terço, ao fim do dia,
È o que nos fará entender.


-A profunda meditação
Dos mistérios do Senhor
A vida, morte e ressurreição
De Jesus, que é o Bom Pastor
E os mistérios de Maria
Que são três: um a alegria,
Os outros são a glória e a dor.

- São Domingos eu te peço
Nos acompanhe com a benção
Na recitação do terço
Para que pela devoção
À nossa virgem Maria
Cheguemos assim, um dia
A Jesus que é salvação.

- E que no nosso calvário
Encontremos a sua glória
Nossa Senhora do Rosário
Que nos guia mundo a fora.
E que nas batalhas da vida
A Grande Mãe Compadecida
Nos conduza pra vitória.

Deste modo então, rezou
O papa de forma franca
E a própria Maria falou
Ao beato Alain da França:
- Rezando o terço de verdade
Não passará necessidades
E terá uma morte branda.

Já no século passado
Em Fátima, Santa Maria
Nos deixou outro recado
- Rezem o terço todo dia
Isso é o que lhes compete,
Assim fez Santa Bernadete
Quando lhes fiz companhia.

E no tempo da escravidão
No Brasil, o mandatário
Proibiu o negro, então,
De ir à missa do vigário.
Nisso os negros, na peleja
Fizeram a própria igreja
Nossa Senhora do Rosário.


Deste modo, enfim termino
Mas antes que voz me cala
Eu direi o que desde menino
A minha bisavó me fala:
- Que desta maneira pensou
E também, nos aconselhou
O São Vicente de Paula:

- Só o rosário é que faz
Depois da missa descer
Muita graça e muita paz
Á quem nele reza e crê.
Cada oração é uma rosa
Que forma em verso e prosa
À Nossa Senhora, um buquê.



FIM


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